terça-feira, 10 de setembro de 2013

52º dia: Estrecho de Magalhães - Cullen

07/03/2010

7ª etapa: Tierra del Fuego
Trajeto: 457 km



Trajeto do 52º dia: 88 km
Estrecho de Magalhães - Cullen



Dormi bem abrigado graças ao espaço de emergência gentilmente cedido a mim na noite passada. Meu dinheiro estava acabando outra vez e não podia arriscar gastar com pousada quando podia dormir na barraca. Porém por fim não foi necessário.















Segui adiante meu pedal, de provisão somente bolachas e pão seco (tive que jogar fora os embutidos que eu trouxe na aduana). Pude jantar no acesso à balsa, porém no mais somente tinham bolachas ou outros itens que em nada acrescentavam melhorias ao meu cardápio para o restante do dia ( e provavelmente do seguinte)...






Frio pra ca#@&!*










Por algum trecho (até alguns quilômetros antes de Cullen) alguns refúgios de emergência dão um pouco de segurança ao viajante. O frio e o vento aqui são implacáveis.
Contam com beliche e espaço para acender fogo  (com chaminé)... como o vento contra estava pegando e já estava claro que não alcançaria San Sebastian a tempo no mesmo dia, pelo menos contava com poder dormir em uma destas ao anoitecer.









Foto candidata a símbolo da Tierra del Fuego e Patagônia.





Sim, muito vento, eu sei. Pode acreditar que eu sei...



Por estas redondezas do Estreito de Magalhães, enfrentando o vento severo, fazendo muita força para pedalar, às vezes lembrava do Valdo, grande ciclista, que mesmo com bastante idade já tinha pedalado por estas bandas. Aqui o pedal não é moleza para nada...






É o lugar que eu encontraria abrigo e comida para esta noite. Mas como o vento contra estava atrasando muito o pedal, teria que me contentar com qualquer lugar para acampar pelo caminho.












Detalhe, estas árvores não estava assim pelo vento do momento. Este é o formato com que elas cresceram.



Passando ao lado de Cerro Sombrero, encontrei lugar para almoçar. Como era domingo, só havia Frango com purê. Almocei bem por fim, porém nada para acrescentar às minhas provisões. Talvez somente na cidade, mas não perderia tempo indo até lá. Segui adiante e comecei o trecho de rípio. A partir daí o vento contra ficou ainda mais forte, mais frio e o rendimento da bike caiu mais ainda pela falta de asfalto. Seria um jogo de paciência nos próximos 110 km...



Cerro Sombrero avistada da estrada.








Estes seriam provavelmente os últimos guanacos que eu veria. Já não faltava muito para o fim da estepe patagônica.












Minha fiel companheira, me levando longe outra vez. Quase chegando nos 5000 km de viagem.






























Ameaça de tempestade...


















Parada para lanche e descanso. A partir de agora refeições sem nenhuma frescura. Pão seco e bolachas, até a próxima cidade.



O vento contra pegando e impedindo o avanço da bike...















Vem tempestade aí...









Quase anoitecendo e nem sinal mais de abrigos há vários quilômetros. Teria que buscar um lugar para acampar por aqui.



Cullen, uma planta processador de gás natural.






De repente, no meio do nada, estes dois me perguntam se fazia tempo que tinham passado os carros da balsa. Eu disse que já fazia algum tempo que não vinha nenhum, então deveriam começar a passar em breve. Me disseram que tomaram café na planta e que se eu pedisse talvez pudesse conseguir também. Quando vi que falavam castelhano com dificuldade perguntei de onde eram  e me disseram que eram da Islândia, e estavam viajando pela Patagônia de carona.
Lhes disse que ia acampar aí e também comentei que teria que jantar bolachas e pão seco. Não tinha nenhuma pretensão de pedir-lhes nada, assim que me surpreendi quando me ofereceram um sanduíche e uma caixinha de suco. Incrível, duas pessoas que vivem no polo norte, à pé, somente com a roupa do corpo e mochilas, me dando comida ao lado do polo sul, no meio do nada. Verdadeiros anjos.
Me despedi deles e fui buscar abrigo (já tendo o que jantar :-) ).



Conversei com o guarda da planta, e enviou uma pessoa pedir autorização para que eu pousasse ali, uma vez que tinham dormitórios. Enquanto esperava conversamos e o guarda comentou comigo que pousou ali um italiano alguns dias antes de mim, assim que talvez me cedessem abrigo. Eu já tinha ouvido falar deste italiano em Comandante Luis Piedra Buena. Me falaravam que estava pedalando pela América do Sul com a missão de divulgar que uma pessoa com diabetes é capaz de qualquer coisa, uma vez que ele era portador da enfermidade. Infelizmente, neste ano que escrevo (2013), eu soube que o italiano veio a falecer, por atropelamento, justamente em sua missão, uma vez que voltou a pedalar, desta vez indo do Ushuaia ao Alaska, sofrente o acidente no México. Seu nome era Mauro Talini, e mais informações sobre seu projeto pode ser encontrado em seu blog: http://maurotalini.blogspot.mx . Que descanse em paz!
Quanto a mim, naquele momento, não tive a mesma oportunidade que o companheiro de pedal, pois na volta o guarda disse que não me autorizariam a pernoitar ali. Não entendi se queriam propina ou simplesmente não foram com a minha cara. Provavelmente a pessoa que autorizou o italiano não era a mesma pessoa que estava ali este dia.
Assim que me restou acampar na cerca ao lado da planta. Sem outra maneira, porque o chão era totalmente pedregoso e não pude cravar bem as estacas, amarrando boa parte da barraca na cerca.
No meio da noite a tempestade anunciada chegou, ameaçando a cada instante levar a barraca e tudo o mais pelos ares. Não pude dormir tranquilo porque como tudo não parava de bater e mexer, a cada segundo eu acordava pensando que estava tudo sendo arrastado, e pelo menos umas três vezes tive que sair no frio congelante para arrumar as amarrações e estacas...

Nenhum comentário:

Postar um comentário